Venda de escritórios já somaR$ 7bilhões Negociações de ativos em São Paulo e no Rio podem atingir R$ 9,4 bi até dezembro, segundo CBRE Por Chiara Quintão — De São Paulo 02/12/2019 05h01 · Atualizado há uma hora Empresas Cardoso, presidente da CBRE: juros rendem menos que imóveis pela primeira vez

As medidas que vêm sendo anunciadas pelo governo em relação à economia ainda se mostram insuficientes para atrair aportes em escritórios comerciais de investidores estrangeiros não presentes no mercado brasileiro. No entanto, estimuladas pela redução da taxa básica de juros Selic, as operações de venda de ativos, principalmente em São Paulo, estão bastante aquecidas, puxadas por companhias de propriedades comerciais, fundos de investimento imobiliário (FIIs) e por investidores internacionais que já atuam no país. “O nome do jogo é juros baixos.

Pela primeira vez, os juros estão abaixo do que os imóveis rendem”, afirmou ao Valor o presidente da consultoria CBRE, Walter Cardoso. Com 30 anos de experiência no setor, o executivo diz nunca ter visto a combinação de taxa de juros em queda, crescimento da economia – ainda que abaixo do esperado – e escassez de produção de escritórios. “É como um eclipse com todos os fatores reunidos”, diz.

Até outubro, considerando-se os mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro, as operações concluídas de vendas de escritórios dos padrões triple A, A e B somam R$ 7 bilhões, valor que pode chegar a R$ 9,4 bilhões se incluídos os R$ 2,4 bilhões previstos para serem fechados ainda neste ano.

O total supera em mais de três vezes os R$ 3 bilhões de 2018. Segundo Cardoso, as transações a serem realizadas no próximo ano vão, possivelmente, ultrapassar as de 2019. Em São Paulo, principal mercado imobiliário do país, à medida que a taxa de vacância cai, os preços de locação começam a subir, e há expectativa de valorização dos imóveis. A esses fatores se soma o volume de novo estoque previsto para ser entregue, daqui para frente, inferior ao que foi concluído nos últimos anos.

Estão previstas entregas de três torres corporativas, no Parque da Cidade; a do Birmann 32, na Faria Lima; e a do projeto desenvolvido pela Hemisfério Sul Investimentos (HSI) e pelo empresário Abram Szajman no Largo da Batata, também na Faria Lima.

O mercado paulistano responde por R$ 5,8 bilhões dos negócios de compra e venda fechados, até outubro, e por R$ 1,9 bilhão do que deve sair até o Òm de dezembro. Se conÒrmados os fechamentos das operações em curso, as vendas da capital paulista alcançarão R$ 7,7 bilhões, superando o patamar de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões estimado por Cardoso em agosto. Entre as operações de destaque, estão a aquisição pela BR Properties de duas torres corporativas e 30% de outro edifício que pertenciam à HSI, no Parque da Cidade. A Odebrecht vendeu seu edifício-sede para a SDI Gestão e para a Barzel Properties. A BrookÒeld Brasil adquiriu do BC Fund 75% do Brazilian Financial Center.

A JS Real Estate Multigestão comprou 60% do WTorre Paulista. Neste mês, a São Carlos Empreendimentos e Participações adquiriu da Previ 62% do edifício Morumbi OÕce Tower. O presidente da CBRE diz estar “absolutamente otimista” com as movimentações que poderão ocorrer em diversos setores, como o imobiliário, o de energia e o de agronegócios, apenas com a migração de parte dos recursos “represados” em aplicações de renda  durante bastante tempo. Questionado sobre o impacto da desvalorização do real na atratividade das propriedades comerciais para estrangeiros, Cardoso afirma que os ativos estão mais baratos em dólar, mas que investidores avessos a riscos estão mais atentos às oscilações do que à cotação. Segundo o presidente da CBRE, investidores estrangeiros ainda sem atuação no país seguem cautelosos, à espera de “mais estabilidade política”. “Os investidores de fora estão muito resistentes às más notícias do Brasil. Há as discussões relacionadas à Amazônia, e a América Latina explosiva está contaminando o país”, diz Cardoso. O executivo acrescenta que a reforma da Previdência foi uma sinalização positiva para o mercado, mas faltam as aprovações das reformas administrativa, tributária e política. Na avaliação do presidente da CBRE, se a economia brasileira continuar no atual ritmo de melhora, a visão dos estrangeiros que avaliam investir no mercado imobiliário brasileiro mas ainda não deram início às apostas mudará em seis meses.

 

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